De olhos bem abertos: Contato

Beto Moura: beto.moura@globo.com

Algumas Trovas...

Quando ontem olhei o céu
Vi um clarão de luar
Pareceu-me um grande véu
Era luz do teu olhara solidão desta vida
Não reclamei um segundo
O que me adiantaria
Se a vida acaba como tudo
Garantiste que o teu amor
Era meu a qualquer preço
Agora, vens me dizer
Que mudaste de endereço
Um dia senti saudade
Quando em teu nome pensei
Trouxe felicidade
Ao lembrar que te amei...
Quisera ser alegria
Para em teu rosto morar
Saberia da magia
Que existe no teu olhar
O tempo passa no tempo
O tempo passa também
O tempo passa ao vento
Sozinho sem ter um bem...

Meu Presente à Jaira

Você chegou-me como a magia das festas
trazendo um aroma sutil,
com um ar bem primaveril
Uma flor-de-maio buliçosa
Não pediu licença
Não me deu clemência
Aliás, nem fez estardalhaços
Chegou, sacodiu a poeira, cruzou os
braços

Sentou-se; pois esperar em pé, cansa,
apenas sorriu...
É, você é mesma diferente
Viu de longe minha desarrumação
Não trouxe dinheiro, não trouxe presentes
Apenas veio, ofertando-me,
teu adelgaçado coração

dezembro/1984

Noturnismo

No orvalho impuro não acordo
Mergulhado neste inconfortável túmulo
Respirando germes da terra, concordo!
Sou mais um vadio acúmulo

Da vida que levei pesada e vil
A morte haveria de calar meu canto
O espírito vivia completamente inútil
Chorando, meu debochado pranto

Por que limitar só com lembranças?
O fúlgido vago da vivência
O tempo se fingia embalde nas usanças
Na lânguida cegueira da carência

Se a morte era vida procurada
Confesso, essa treva amarga abdico
Impressionado com a surdina mascarada
Das desgraças do destino que implico,

Não sinto mais o calor de uma manhã febril
Nem mais melancolia de uma noite mal-dormida
Meu amor! Já não mais vejo teu perfil
Meu caminho se interrompeu na estrada

Temo por um esquecimento profano
Usado como pretexto da minha permanência efêmera
Enquanto aparenta me despir d’um tal engano
Com a promessa de subir aos céus, sincera!
Rio: 12/03/1972

De olhos bem abertos

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por Thaiza Murray